A liderança é frequentemente romantizada como um posto de poder e influência. No entanto, para além do status, está uma carga imensa de responsabilidade, pressão por resultados contínuos e o peso de guiar equipes em cenários complexos, o que cada vez mais leva ao burnout em líderes.
Essa realidade é um fator contribuinte significativo para a síndrome que, segundo um estudo da Asana de 2024, afeta 71% dos líderes globais. Outras pesquisas, como a realizada pela Gallup em 2023, também apontam que o burnout em líderes é um problema crescente, com mais da metade dos gestores relatando altos níveis de estresse e exaustão.
Quando o pilar de sustentação de uma equipe adoece, o impacto não se restringe a uma única pessoa, ele reverbera por toda a estrutura organizacional.
A pressão única da liderança e sua vulnerabilidade ao burnout
Liderar equipes, tomar decisões estratégicas e manter a performance do time sob controle são responsabilidades que, embora valorizadas, carregam um peso silencioso. Muitas vezes, quem lidera também sofre, mas em silêncio. A seguir, destacamos por que a posição de liderança, apesar de admirada, pode ser uma das mais vulneráveis ao burnout:
- Pressão por resultados: metas agressivas, expectativas de crescimento e a necessidade de superar desafios constantes.
- Gestão de pessoas: responsabilidade pelo desempenho, desenvolvimento e bem-estar de suas equipes, muitas vezes atuando como mediadores de conflitos.
- Tomada de decisões contínuas: inúmeras decisões complexas com alto impacto, levando à fadiga decisória.
- Disponibilidade constante: a expectativa de estar sempre acessível e pronto para resolver problemas, muitas vezes extrapolando a jornada de trabalho.
- Isolamento: a “solidão do topo”, onde líderes podem sentir-se isolados de seus pares e da equipe, sem um espaço seguro para expressar suas vulnerabilidades.
- Falta de suporte: muitas vezes, os programas de bem-estar focam em colaboradores, esquecendo que líderes também precisam de apoio específico.
O efeito cascata: como o burnout de um líder atinge a organização
O adoecimento de um líder tem um impacto organizacional que vai muito além da sua performance individual. Quando uma liderança adoece, todo o ecossistema ao redor sente os efeitos: o time perde referências, a motivação diminui e a segurança psicológica pode ser comprometida.
Mais do que uma questão individual, é um risco coletivo que afeta clima, cultura e resultados! A seguir, destacamos os principais motivos que tornam as lideranças especialmente vulneráveis ao burnout e por que é fundamental olhar com mais atenção para quem cuida de todos.
- Decisões prejudicadas e estratégias falhas: um líder em burnout pode ter sua capacidade cognitiva comprometida, levando a escolhas estratégicas equivocadas, atrasos ou inércia em momentos cruciais. A fadiga decisória resulta em pior qualidade das decisões.
- Deterioração do clima e da cultura organizacional: Líderes exaustos e irritados podem, inconscientemente, criar um ambiente de trabalho mais tóxico, com comunicação passiva-agressiva, falta de empatia e rigidez, corroendo a segurança psicológica da equipe.
- Baixa produtividade e desengajamento da equipe: A falta de direção clara, o desengajamento do líder, a ausência de suporte emocional e a dificuldade em delegar podem levar a uma queda generalizada na produtividade e no moral da equipe.
- Aumento do turnover na equipe: Colaboradores podem se sentir desamparados, sobrecarregados ou desmotivados sob uma liderança em burnout, o que os leva a buscar outras oportunidades, gerando custos de substituição.
- Perda de credibilidade e confiança: A incapacidade do líder de lidar com a pressão ou de manter a compostura pode gerar perda de confiança por parte da equipe, da alta gestão e até mesmo de stakeholders externos.
- Impacto no desenvolvimento de talentos: Líderes em burnout tendem a ter menos energia para mentorar, desenvolver e inspirar seus liderados, prejudicando o pipeline de talentos da empresa.
Estratégias B2B para prevenir o burnout em líderes
Reconhecer que o burnout da liderança é um problema de negócio é o primeiro passo para promover mudanças reais. Cuidar de quem lidera não é apenas uma questão de empatia, é uma decisão estratégica que impacta diretamente a performance, o clima organizacional e a sustentabilidade da empresa.
Cabe ao RH e à alta gestão desenvolver iniciativas que protejam esses profissionais e criem uma cultura mais saudável e segura. Veja a seguir, algumas das estratégias B2B essenciais para fortalecer a liderança e proteger toda a organização.
- Programas de suporte específicos para líderes: Oferecer EAPs com acompanhamento psicológico especializado em gestão de alta pressão e equilíbrio emocional, e acesso a coaching executivo focado em bem-estar.
- Desenvolvimento de lideranças resilientes: Treinamentos que abordem a inteligência emocional, a gestão do estresse, técnicas de mindfulness e a importância do autocuidado para líderes.
- Definição Clara de Limites e Carga de Trabalho: A alta gestão deve ser um exemplo na promoção da desconexão digital e garantir que a carga de trabalho dos líderes seja sustentável, evitando a sobrecarga crônica.
- Espaços Seguros para Vulnerabilidade: Criar fóruns ou grupos de pares (mentorias entre líderes) onde a liderança possa compartilhar desafios, vulnerabilidades e buscar apoio sem medo de julgamento.
- Incentivo à delegação e autonomia da equipe: Treinar líderes a delegar efetivamente e a empoderar suas equipes, não apenas para desenvolver os colaboradores, mas também para aliviar sua própria carga de trabalho e decisão.
- Monitoramento e “check-ups” de bem-estar para o C-Level: Incluir o bem-estar mental nas avaliações de desempenho de líderes e oferecer “check-ups emocionais” que garantam que eles também estejam recebendo o suporte necessário.
A saúde mental da liderança não é um luxo, mas uma necessidade estratégica. Proteger quem está no topo é proteger a visão, a cultura e o futuro da empresa. Investir no bem-estar dos líderes é um passo fundamental para construir uma organização mais resiliente, produtiva e humana como um todo.